22 de outubro de 2009

Humor

- Dona Romilda, sabe tenho vontade de tocar-lhe onde há muito não devem tocá-la...
- Oh, Seu Ivo!
- É, tocá-la num lugar quentinho, úmido, que certamente conserva uma certa beleza!
- Mas, Seu Ivo!
- Um certo orifício que a senhora deve ter se aproveitado muito durante a vida, poderia apenas fantasiar, mas na realidade estou certo de que a senhora não deve ter deixado de aproveitar sequer enquanto respirava!
- Seu Ivo! O que estás dizendo?!
- Dona Romilda, deixe me tocá-la, prometo que com muito carinho, no buraquinho...
- Buraquinho, Seu Ivo?! Mas que pouca vergonha!
- Sim! Dona Romilda, sim! Deixe-me tocar sua narina!

29 de setembro de 2009

Amor

No asílo, Seu Ivo, grande galanteador por toda a vida, se engraçou com Dona Romilda. Ambos já passavam de 70 ou 80 anos de idade, não se sabe ao certo, porém conservavam, talvez pelo ar puro, jardim prefumado e colorido do lugar, uma jovialidade no sorriso que os tornava leves e belos como há 50 ou 60 anos atrás.
Naquele dia, já passados 13 dias do início do namoro - já estavam juntos há quase um ano, dizia ele que mal sabia que, na cabeça de Dona Romilda, não passava de um ficante - pois naquele dia, Seu Ivo, provavelmente entusiasmado pela paixão e pelo maravilhoso primeiro dia de sol daquela primavera, estava decidido a perguntá-la...
Passou a manhã toda caminhando na tentativa de livrar-se da ansiedade, queria logo o almoço, o cochilo da tarde e o chazinho das cinco. Aliás! Que ótima idéia! Chegaria na hora do chá! Dona Romilda mal poderia imaginar a empolgação que seu "latin lover" estava para encontrá-la.
Não cochilou, esperou o relógio bater três badaladas após o meio-dia e aproveitou-se da distração dos funcionários da casa para ir ao banho.
Barbeou-se, banhou-se, secou-se, perfumou-se, vestiu-se, olhou-se pela última vez no espelho. Olhou o relógio quando o mesmo badalou, badalou, badalou e badalou. Saiu do quarto e sentou-se na cadeira de balanço repassando metalmente seu plano. Cochilou. Acordou com a quinta badalada da hora seguinte. Levantou-se, ajeitou a gravatinha borboleta e saiu em direção ao quarto de sua amada.
- Boa tarde, Dona Romilda! fez ressoar sua voz sedosa, chamando-a pela janela.
- Oh, que surpresa! Não quer entrar para o chá, Seu Ivo?
- Adoraria saborear este chá de cidreira em sua presença, madame.
Dona Romilda sentiu um friozinho na espinha, daqueles que não sentia há 55 ou 65 anos atrás. Sentia que o relacionamento finalmente ficaria sério.
Sentaram-se saborearam o chá com algumas torradinhas. Sem trocar muitas palavras, apenas falaram pouco sobre o dia que passaram...
- Dona Romilda, preciso te contar que minha caminhada de cinco horas que iniciei logo que levantei foi porque estava ansioso.
- Ansioso por que motivo, Seu Ivo?
- Sabe, estive pensando em nós... Nós temos motivos pra dizer que estamos com muita intimidade, não é verdade?
- Sim... É verdade... respondeu hesitante.
Sem esperar muito para que ela terminasse sua resposta, achegou-se dela e beijou-lhe a face, ela nem sequer suspirou quando os lábios se tocaram.

2 de setembro de 2009

עדן ‎(Eden)‎

Deitaram-se.

A exaustão dos últimos fatos ocorridos no seu cotidiano apoderaram-se de seu corpo num clima israeli-palestínico.

Ela afagou-o com ternura, acariciou-lhe as costas na tentativa de fazê-lo relaxar como numa boa sessão de massagem.

Pressionava carinhosamente suas costas, alternando as posições entre a nuca, clavícula e omoplata. Ele continuava tenso. Muito tenso.

Ele então rompeu o silêncio relaxante que ela pensava estar promovendo dizendo-lhe coisas que ela, em seu contentamento de boa esposa que faz massagem, não deu muito ouvidos aumentando a intensidade dos movimentos, imaginando que agora sim o faria relaxar. Ledo engano, ela parecia ter esquecido que a questão Palestina-Israel era muito anterior a pré-existência desses nomes.

Insistiu em dizer a ela onde queria que a massagem fosse feita, insistiu em querer entender os motivos dela estar dispensando aqueles carinho etcetera e mais tudo o mais de etcetera e tal que isso poderia envolver.

Ela então viu que não tinha jeito, teria de usar sua arma secreta. Secreta até a ela mesma que se surpreendia a cada palavra que saia de sua boca e de suas mãos.

E as palavras foram exatamente estas:

“Relaxa... Relaxa, sinta o amor te invadir... Sinta o amor... Sinta a vida... Sinta nós... Sinta o reggae... Sinta Deus... Sinta a paz... Sinta um campo de girassóis... Sinta o jardim em que está... Cheio de rosas... Cheio de antúrios... Cheio de gérberas... Cheio de lírios roxos... Cheio de hortênsias... Cheio de girassóis... Com a Astrid correndo, pulando, brincando com as borboletas... E a Leka junto... A Tchuchuka! A Cindy! Que saudade... Imaginou?”

Que lugar gostoso... ele murmurou já numa guerrilha local.

Ela continuou num tom ainda mais sereno e tão doce que a mais hábil abelha não poderia dar ao seu mel:

“Imagine agora a luz brilhante que ilumina esse jardim... Imagine o ar que envolve e preenche cada espacinho desse jardim... Luz e ar se misturam e se confundem... Não se vê a luz, mas se vê porque ela ilumina... Não se vê o ar, mas se vive porque ele está presente... E eles se misturam, entranham-se um no outro indefinidamente, desapercebidamente... Não são visíveis, mas se pode senti-los... Você é essa luz... Eu sou o ar...”

Eu sinto agora... Ele involuntariamente hasteava a bandeira mais branca que a paz. Segiu-se um tempo, até que o efeito hipnótico começasse a dispersar e ele querendo voltar a guerra. Ela abraçou-o e colocou toda sua alma na voz:

“Esse jardim ainda não acabou... Há um pequeno lago bem no meio desse jardim... O calor, fruto da união da luz e o ar, é grande, deixa o tempo muito quente, numa temperatura tal que essa água lentamente se evapora, deixando o ar úmido... Sinta o vapor... Vapor que se condensa ao toque da pele, das folhas, flores, caules, condensa-se onde quer que se deite...”

É bom...

“Esse vapor é Deus...”

4 de agosto de 2009

Enquanto...

Ela faz chapinha, eu escuto Engenheiros do Havaí.

E mesmo assim, apesar de toda distância, sei sinto que estamos juntos.

29 de julho de 2009

Dias Cinzas

o dia acinzentado
ficou marcado
por uma melancolia
que inteiro o engolia

o dia acinzentado
ficou marcado
por um marasmo
que o deixou pasmo

o dia acinzentado
ficou marcado
por uma auto-decepção
que o deitou no chão

o dia acinzentado
ficou marcado...

24 de julho de 2009

Eu queria mesmo...

Era estar abraçadinho contigo, debaixo das cobertas, sem ter hora pra levantar, só levantar quando desse fome, só levantar quando desse sede, e nesse meio tempo ficar o tempo todo abraçado, namorado, casado contigo...

29 de março de 2009

Saudade

Quanto vale uma verdade
Quando a gente está morrendo de saudade?

Quanto vale uma mentira
Quando a gente quer logo matar saudade?

Quanto vale uma vida
Quando a gente está morrendo de saudade?

Quanto vale a morte
Quando a gente quer logo matar saudade?