2 de setembro de 2009

עדן ‎(Eden)‎

Deitaram-se.

A exaustão dos últimos fatos ocorridos no seu cotidiano apoderaram-se de seu corpo num clima israeli-palestínico.

Ela afagou-o com ternura, acariciou-lhe as costas na tentativa de fazê-lo relaxar como numa boa sessão de massagem.

Pressionava carinhosamente suas costas, alternando as posições entre a nuca, clavícula e omoplata. Ele continuava tenso. Muito tenso.

Ele então rompeu o silêncio relaxante que ela pensava estar promovendo dizendo-lhe coisas que ela, em seu contentamento de boa esposa que faz massagem, não deu muito ouvidos aumentando a intensidade dos movimentos, imaginando que agora sim o faria relaxar. Ledo engano, ela parecia ter esquecido que a questão Palestina-Israel era muito anterior a pré-existência desses nomes.

Insistiu em dizer a ela onde queria que a massagem fosse feita, insistiu em querer entender os motivos dela estar dispensando aqueles carinho etcetera e mais tudo o mais de etcetera e tal que isso poderia envolver.

Ela então viu que não tinha jeito, teria de usar sua arma secreta. Secreta até a ela mesma que se surpreendia a cada palavra que saia de sua boca e de suas mãos.

E as palavras foram exatamente estas:

“Relaxa... Relaxa, sinta o amor te invadir... Sinta o amor... Sinta a vida... Sinta nós... Sinta o reggae... Sinta Deus... Sinta a paz... Sinta um campo de girassóis... Sinta o jardim em que está... Cheio de rosas... Cheio de antúrios... Cheio de gérberas... Cheio de lírios roxos... Cheio de hortênsias... Cheio de girassóis... Com a Astrid correndo, pulando, brincando com as borboletas... E a Leka junto... A Tchuchuka! A Cindy! Que saudade... Imaginou?”

Que lugar gostoso... ele murmurou já numa guerrilha local.

Ela continuou num tom ainda mais sereno e tão doce que a mais hábil abelha não poderia dar ao seu mel:

“Imagine agora a luz brilhante que ilumina esse jardim... Imagine o ar que envolve e preenche cada espacinho desse jardim... Luz e ar se misturam e se confundem... Não se vê a luz, mas se vê porque ela ilumina... Não se vê o ar, mas se vive porque ele está presente... E eles se misturam, entranham-se um no outro indefinidamente, desapercebidamente... Não são visíveis, mas se pode senti-los... Você é essa luz... Eu sou o ar...”

Eu sinto agora... Ele involuntariamente hasteava a bandeira mais branca que a paz. Segiu-se um tempo, até que o efeito hipnótico começasse a dispersar e ele querendo voltar a guerra. Ela abraçou-o e colocou toda sua alma na voz:

“Esse jardim ainda não acabou... Há um pequeno lago bem no meio desse jardim... O calor, fruto da união da luz e o ar, é grande, deixa o tempo muito quente, numa temperatura tal que essa água lentamente se evapora, deixando o ar úmido... Sinta o vapor... Vapor que se condensa ao toque da pele, das folhas, flores, caules, condensa-se onde quer que se deite...”

É bom...

“Esse vapor é Deus...”

2 comentários:

R.C. disse...

*Sorrindo

Esse texto nos embala.
Eu gosto.
E pude sentir o cheiro das flores.

Eu sinto o cheiro das flores sempre... sempre que lembro quão minha vida é gostosa.

Deco Hoppus disse...

é....

é sempre bom!!!

flores e guerras...

perfumes e mau odores...

abração cara...